19 de maio de 2012

O ANDARILHO



São quase cinco horas da madrugada e eu aqui, como um inveterado notívago, garimpando palavras para descrever as sensações ocasionadas pela presença daquele enigmático visitante.

Não é muito comum, mas vez ou outra, quando absorvido profundamente na tarefa de esculpir madeira, pressinto a presença de alguém me assistindo, ao desviar o olhar para ver quem está ao meu lado, nada vejo. Entretanto, fica-me a impressão indelével de que um ser realmente me especulava. Com o passar do tempo, deduzi que seria impossível enxergar com os olhos da matéria o que só a alma poderia apreender.

Pois é, foi numa tarde quente na qual, durante horas empolgado com a possibilidade de uma maçaranduba, submergido integralmente na tarefa de entalhá-la, percebi novamente uma entidade a olhar-me. Seria um homem?

Era um homem mesmo! No entanto, bem incomum, devia ter quase dois metros de altura, muito magro, barba, cabelos longos a cair sobre os ombros e olhos azuis muito brilhantes. Cumprimentei-o e ele retrucou.

-Admiro demais o trabalho feito por você, mas não queria interrompê-lo.

Impressionado com o magnetismo daquela personalidade cheguei a pensar, por momentos, que poderia ser um espírito materializado  testando-me em alguma coisa. Porém, suas roupas velhas e amarrotadas, seus pés encardidos calçando velhas havaianas, não deixavam dúvidas. Era um andante! 

Compreendo o papel da arte como algo feito para embelezar o mundo, incitar a reflexão, encantar as pessoas. Portanto, independente do dinheiro, trato especialmente bem a todos que deslumbrados admiram minha obra. Arte é uma apreensão da alma e não há título, dinheiro ou diploma que faça uma pessoa ter mais sensibilidade só por causa da fortuna ou da instrução recebida.

Imaginei que ele já devia estar lá há algum tempo, denotando humildade e respeito. Tratei-o com esmerada gentileza, mostrando todo meu trabalho detalhando os fatos que me levaram a produzi-los. O visitante argumentava demonstrando bom conhecimento de arte e dissera-me que já havia observado meu ateliê através da vitrine no dia anterior e, meu grande dragão tinha chamado demais a sua atenção, embora minha obra toda fosse primorosa.

Na despedida, ele tirou do bolso uma dessas panelinhas de pressão artesanais feitas com latinhas de refrigerantes. Confessei-lhe que não tinha dinheiro nenhum para comprá-la e mostrei outra latinha já adquirida  de um hippie anteriormente. Fiquei estupefato, pois ele só queria presentear-me com aquilo que só podia ser a única coisa que possuía. Ele insistiu, mas preocupado com sua pobreza, o convenci de que ele merecia vendê-la, pois estava muito bonitinha.

Após sua saída, fiquei a pensar no meu vexame, no quanto a arte pode impressionar as pessoas mais sensíveis. Lembrei-me da velha senhora paupérrima que vinha especular no meu ateliê toda semana e, ao sair, sempre abria sua sacola e despejava um montão de balas e frutas na minha mesa de trabalho. Houve também pessoas um pouco mais abastada que nada compraram, mas deram-me bom dinheiro pelo encanto que as obras lhes proporcionaram.

Continuo bem pobre como a maioria dos artistas desta nação, mas compreendo que a arte exerce um papel fundamental para o planeta - de despertar para a reflexão, do bom, do belo e do bem.

Rubens Prata  

Havendo princípios e objetivo na vida. Não importa o que os outros dizem.
R. Prata

FELICIDADE




Ser feliz não é ter na garagem um Ferrari Amarelo,
Muito menos morar num castelo,
É impossível ser feliz todo dia,
Passar 24 horas de alegria.

Felicidade resulta de atitude
Que o Fulano ministra gota a gota amiúde,
É como guardar cinco centavos a cada dia
E com o passar dos anos enriquecer de sabedoria.

Felicidade é a consciência de que o cotidiano
É tudo o que precisamos todo o ano,
É temperar a salada com todo carinho,
Com óleo de oliva, alho e vinagre de vinho.

Felicidade é abraço, beijo, colinho,
É dizer – te amo – bem baixinho,
É embriagar-se do por do Sol no fim da rua
E à noite, inebriar-se com a Lua.

Felicidade é desligar a televisão
Bem na hora da aberração,
É notar florzinhas num simples trevo,
O trevo tem folhinhas em forma de coração.

Felicidade é perceber que no mundo,
Há todo tipo de gente boa,
As pessoas a nossa volta
Não estão conosco à toa.

Ser feliz não é ter, é ser!
São as gotinhas de bons momentos,
Cujo tempo faz encher um mar de sentimentos.

Rubens Prata

Arte também é pão espiritual que fala a alma.
R. Prata

MUSIQUINHA SEM GRAÇA



O que eu faço para meu amor
Levantar alegre sorridente
Acordar, bem leve e contente?
Preparo um café da manhã,
Bem gostoso com pão quente,
Lhe desperto com um beijo muito ardente.

O que eu faço para meu amor
Ser feliz e respeitada?
Faço um verso bem bacana
Para dizer que é minha amada.

Oi, Oi... Oi, Oi!

Sem você não sou nada,
Sou uma alma abandonada,
Roupa velha, amarrotada.

R. Prata

A vida passa e está sujeita ao tempo.
A arte fica e vive para sempre.
R. Prata

30 de abril de 2012

CERTAS MANEIRAS DE EDUCAR UM FILHO



Di certo, o Criador havia errado em sua criação
Pois, minha mãe acreditava que criança nascia bandida.
Então, precisava corrigir-me,
Enquadrar-me nos seus parâmetros de perfeição.
Daí, impunha:
_-Faça direto. Peste!
Não faça isto, Não faça aquilo.
Tome cuidado com isto, Tome cuidado com aquilo.

Portanto, fui crescendo enquadrado,
Tateando a vida com todo cuidado.

Só agora que fiquei bem mais velho,
Descobri que podia deixar de ser um bundão.
Não tenho mais medo de bicho papão.

Hoje, esforço-me muito para desaprender.
Já posso dançar....
Posso me soltar,
Sem preocupar-me com o que os outros irão falar.
Até descreci um pouco!

Atualmente...
Até brinco com madeiras,
Perco tempo com palavras,
Permito-me uma pitada de ócio.

Agora...
Pode ser um pouco tarde para cometer os pecados que não cometi.
O corpo ficou rotundo,
As costas apelam para a dor,
As pernas recusam andar.
Pois é!
Só Agora vou sair pelos caminhos do mundo
Irei aos recantos, onde o medo impediu-me de chegar.
Vou até onde minha saúde puder me levar.

 Rubens Prata 

P.S.  Com todo respeito e consideração 'a minha mãe

Sou feito de sonhos não vividos
De decisões interrompidas
De amores não realizados
De choros que não despencaram
De lugares que não conheci
De presença que não estive
De fugas que não fugi
De palavras que falei
Quando devia ter calado
De palavras que não falei
Quando devia ter falado
Da coragem que nunca tive
Da presença não esperada
Sou só Ser humano
R. Prata
Tem atitudes que acenam para um mundo melhor. Numa decisão definitiva e irrevogável o Governo alemão decidiu substituir todas as suas usinas nucleares. No Japão houve manifestações contra as usinas nucleares. Na Itália, em plebiscito a população votou maciçamente em prol da desativação das usinas nucleares, bem como, contra a imoralidade. Gente. Isso tudo não soa como uma melhoria de nossa humanidade?

29 de abril de 2012

TEM GENTE



Tem jovem que é velho.
Tem velho que é jovem.
Tem gente que pensa que é vivo.
Mas não sabe, já partiu.

Tem gente que só gosta de cães.
Tem gente que cuida dos gatos.
Tem gente que gosta da gente.

Tem gente que sente.
Tem muitos que mentem.
Tem mestre que finge ensinar.
Tem aluno que finge aprender.
Tem outro, que foge pela tangente.

Tem médico que pensa tratar da gente.
Tem outro que cuida da gente.
Tem gente que planta a semente.
Tem também, quem roube a gente.

Tem gente que derruba a mata.
Tem pessoas, que sujam a rua.
Tem bandido que mata.
Tem poeta, que faz poema para a Lua.

Tem gente, que faz tudo mal feito.
Tem pai que não ensina seus filhos.
Tem outro que nem tenta.
Onde merece morar essa gente?

Tem gente, que acredita na gente.
Tem gente, que duvida da gente.
Tem alguns que exploram a gente.
Tem gente que precisa da gente.

Tem gente que veio ao mundo só para passear.
Tem outro que veio para sustentar.
Tem quem chegou só para trazer problema.
Tem aqueles que vieram para resolver o esquema.

Tem gente que acha que todo mundo é mau.
Com isso, encontra pretexto para praticar muito mal.
Tem gente que planta o milho.
Tem gente que cuida do filho.

Rubens Prata

"É A VIDA, É A VIDA"




o rádio, as músicas que fizeram as nossas cabeças,
Preenchem o vazio dos cômodos.
Você na cama inerte, dolorida,
Pego sua mão, ensaio a sua volta uns passos de dança,
Beijo-te, te chamo de querida.
Mas você, entorpecida, permanece “tão longe
De mim distante”.

Lavo a louça, deixo a pia impecável, o chão bem limpo.
Com carinho e coração
Esfrego-lhe o corpo com arnica, cânfora e rubi.
“Teu corpo ainda é luz sedução”,
Mas você, “onde irá teus pensamentos?”

A música continua a ofuscar a solidão,
Deixo arroz e mistura prontos na geladeira
Ansiando o festejar do nosso almoço.
‘’Como é grande o meu amor por você’’

A madeira paciente, espera que eu lhe traga vida.
Que o Criador me guie ao talhá-la,
Que eu encante a todos que aguardam o fim da escultura.”

A arte me espera,
O dinheiro é curto, calculado,
Ao extremo planejado.
Os passos são medidos,
O passeio sempre adiado.
Assim é o cotidiano, até no feriado.

“É a vida, é a vida”,
De detalhes pequenos,
De passos minúsculos,
De tudo o que escolhemos,
O dever cumprido,
O caminho da glória.

R. Prata

19 de abril de 2012

EU NÃO GOSTO DE DOMINGO


Eu não gosto de domingo.
Nunca vi dia mais sem propósito
Aquele programa chato na TV,
O ritual enfadonho nas igrejas,
A família ansiosa por passeio e diversão,
Quando você só quer dormir para esperar a segunda feira.
Se não tomar cuidado aparece ainda um bêbado,
Que te enlaça dizendo que te ama,
Que você é um pai para ele.

Eu não gosto de domingo.
Os passeios os quais, só sonho,
Os lugares que não posso ir,
O tempo que é curto,
O tédio do nada fazer
O macarrão sem novidade,
A represa lotada,
A praia suja.

Eu não gosto de domingo.
O domingo é um paradoxo,
Um dia no qual você se obriga
A fazer não se sabe o quê,
A passear quando deseja descansar,
A dormir quando não tem sono.

Bom mesmo é segunda feira,
Quando a vida ganha sentido.
Objetivos se renovam,
A arte recomeça,
O compromisso é firmado,
O telefonema é inadiável,
A entrega da encomenda,
A rega do jardim,
O mato para arrancar,
O encanto do visitante,
As crianças na escola,
A razão do viver.

 E se perguntarem por mim,
Diga que estou ocupado
Divertindo-me com o trabalho cotidiano.

Rubens Prata
Passamos a vida estudando, vivenciando e tendo experiências para finalmente aprendermos a ficar calados.
R. Prata

Explode coração!



TUNTUM
Tuntum, tuntum
Bate coração
Exploda essa emoção
Pôe para fora tudo o que há de bom
Bombeia vida
Da cabeça à ponta da mão

Tuntum, tuntum
Bate coração
Escreva esse verso
Guardado por precaução
Pinte aquele quadro
Nascido da imaginação

Tuntum, Tuntum
Bate coração
Afine os sentimentos
No compasso do amor
Amor – amor – amor...

Tuntum, tuntum
Que está música seja boa
Que a vida não transcorra atoa
Seja samba rock ou bossa nova
Que o ritmo tenha o tom
Do bem, do belo e do bom
Tuntum – tuntum - tuntum...

R. Prata

P.S. Pois é, de vez em sempre eu fico bobo mesmo!
Comida vegetariana pode ser  boa para a saúde, o único problema é essa sensação de que está sempre faltando alguma coisa.
R. Prata

DNA, Cromossomos


O que somos?
DNA, cromossomos,
Sangue B. Sangue bom
Ritmo do coração
Instinto,  sensação
Batendo no compasso da emoção.

Somos corpo?
Muito vivo. Meio morto
Anoréxico. Esquelético
Fofo. Bem gordo,
Até gostoso
Estética não é ética

Somos almas encarnada?
Pessoas inacabadas
Ignorância atávica
Infames errantes
Errando, errando.
R. Prata

A irreverência é uma atitude de natureza rebelde que permanece presente naqueles que nunca envelhecem.
r.b.o.

AS DORES DA VIDA


Ah! Dores.
Dores nem sei de onde
Dores que a vida esconde
Dores do corpo
Dores da alma
Dores que o tempo avaliza
Dores que nada acalma
Corpo rijo, dolorido, fraco
Companheira sempre doente
Netos consecutivamente rebeldes

Ninguém contorna
O caminho da morte
Tanta tarefa por fazer
Tanta arte esperando
Esperando a potência que não vem
A disposição que o tempo te rouba

Vida infame e louca
Nada somos
Senão massa falida
Vitalidade pouca

Ah! Deus me acuda
Da covardia crônica
Da vontade pequena
Permita-me o trabalho
Até o último respiro da vida
Nem que seja um pouco doente
Mas, bem longe de médicos e da cama.

Rubens Prata

A leitura prejudica seriamente a ignorância.

26 de fevereiro de 2012

OUTRORA X AGORA

Já houve um tempo
Que o corpo era atlético
A disposição interminável
A vontade arrebatadora
A curiosidade imensa
A criatividade gigantesca

Já houve um tempo
Que a ignorância era tamanha
A experiência pequena
O medo enorme
A imaginação falha

Ah! Mas há o tempo
Num corpo pesado
A disposição fraca
Vontade nenhuma
A curiosidade dirigida
A criatividade sólida

Ah! Só o tempo traz
A consciência da ignorância
A experiência adquirida
Medo nenhum
A imaginação farta

É pena que não possamos juntar
O corpo e a vitalidade do ontem
Com a  ciência do hoje.

Rubens Prata